Magid Saad
"É para isso que serve, difundir a arte fotográfica em todos os seus aspectos e modalidades", diz com firmeza seu Magid Saade, às vésperas de completar 88 anos, com todo o idealismo que levou à criação do Foto Clube do Espírito Santo no ano de 1946, do qual ele foi um dos fundadores e é hoje o único ainda aqui por Vitória. Com 62 anos de fundação, a serem completados na próxima sexta-feira (23), o Foto Clube do Espírito Santo é o tema da exposição Coletiva de Fotógrafos que vai ser aberta nesta terça-feira (20), no Bandes, pelo projeto Vitória Foto, reunindo imagens raras, produzidas por um coletivo de fotógrafos que fizeram parte desse movimento.
A mostra, de caráter documental, colocará em destaque uma parte importante da memória iconográfica do Estado; serão ao todo 48 fotografias realizadas pelos fotoclubistas desde a década de 40. Sob a curadoria dos fotógrafos Apoena Medeiros e Carla Osório, foram privilegiadas imagens e fotógrafos que fossem representativos dos diversos momentos de criação fotográfica do movimento fotoclubista capixaba, com destaque para os trabalhos de Pedro Fonseca, com imagens raras de Vitória realizadas entre as décadas de 40 e 50, e para o estilo de vanguarda dos fotógrafos Nilton Pimenta e Júlio Cesar Pagani, nos anos 70.
Entre os entusiastas da entidade criada nos anos 40, além de seu Magid, estavam Pedro Fonseca, Érico Hauschild, Dolores Bucher, Ugo Musso, Décio Lírio e Finn Knudsen, todos eles amadores. "Houve uma época em que o idealismo prevalecia. Foi na década de 1940. Surgiram diversas entidades culturais e artísticas. E surgiu o Foto Clube. A vida capixaba tomou novo fôlego. O pessoal todo tinha sua atividade profissional e entrava nessas organizações", lembra Magid, incluindo na lista ainda os clubes de poesia, dama, xadrez, criadores de canários, orquídea, também criados na época.
Atividades
Magid ainda guarda os catálogos dos salões capixabas de arte fotográfica ocorridos nos anos 70 em Vitória. Além dos fotógrafos amadores de todo o Brasil, também eram inscritos centenas de trabalhos de pessoas da Alemanha, Áustria, Luxemburgo, às vezes até mais que a participação nacional, além de em menor numero da Argentina, Estados Unidos, Filipinas e vários outros países europeus. Em 1975, por exemplo, foram recebidas mais de três mil inscrições, das quais cerca de 1.200 foram selecionadas pela comissão julgadora para participar da 25ª edição do salão.
Foram várias exposições na história. Um ano antes da criação o Foto Clube do Espírito Santo organizou na Capital a I Exposição de Arte Fotográfica de Amadores, em uma loja da Praça Oito, experiência que levou à fundação da entidade. Foram organizados ainda 26 famosos Salões Capixabas de Arte Fotográfica, sendo os primeiros de âmbito nacional, e os de 1948 a 1978 de cunho internacional, esses inclusive reconhecidos pela Federação Internacional de Arte Fotográfica (FIAP). O FCES foi um dos fundadores da Confederação Brasileira de Fotografia e Cinema, em 1950.
Pedro Fonseca
Também foi realizada pelos fotoclubistas capixabas a I Exposição de Arte Fotográfica da Cidade de Guarapari, em 1971, além de ministrarem cursos de iniciação ao tema. Em 1968, o grupo promoveu em Vitória a V Bienal de Arte Fotográfica Brasileira, com uma extensa programação que atraiu a participação e presença dos mais notáveis artistas da arte fotográfica brasileira.
"No Foto Clube, os participantes eram todos fotógrafos amadores. Eu nunca recebi um centavo com fotografia, mas teve gente que se tornou profissional. Foi evoluindo, e nós fazíamos exposições de grande valia. Era uma festa. Havia o prestígio do público, a contribuição das entidades financeiras. Nós tínhamos pontos estratégicos de Vitória. Vitória ia do Palácio Anchieta até a Avenida Capixaba. Ali era o centro nervoso da Capital, ali se discutia de tudo", relembra.
Entre as temáticas que aqueles amadores buscavam fotografar, Magid Saade conta que ia pela tendência de cada um. "Eu comecei com muita praia. Minha propensão era marinha. Tinha os que fotografavam pessoas e os que fotografavam natureza morta. Table top, que era a fotografia tirada em cima da mesa. Teve um tempo que tiravam fotografias de paisagem. Nós aprendemos muito de composição com os pintores: Rembrandt, Renoir, Taylor. Agora, a gente não admitia fotografia de pessoas com distorção".
A Vitória de então
Seu Magid é um senhor muito conversador, que gosta de falar de tudo um pouco. Foi bancário no Banco do Brasil e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) no curso de Ciências Contábeis. Fala com saudade do Parque Moscoso, conta histórias de fotografias tiradas por ele e outro colega de Augusto Ruschi, para ele "o menino Ruschi", fala do último terremoto da China e de suas vítimas, da qualidade dos equipamentos digitais japoneses e da baixa qualidade dos chineses.
Da Capital ele relembra. "No meu tempo as sete maravilhas de Vitória eram o Parque Moscoso, o Teatro Carlos Gomes, o conjunto Palácio Anchieta e as escadarias, o Saldanha da Gama, o Museu Monjardim e a Catedral. Mutilaram o Parque Moscoso, mutilaram a Catedral, estão pintando os prédios de Vitória de ocre, às vezes um ocre vivo, que é um absurdo dos absurdos", lamenta.
Ele também ri de algumas histórias e explica com afinco a revelação feita nos laboratórios na época, falando de diafragma, efeito de luz, revelador, fixador, interruptor, e por aí vai. Tendo começado suas primeiras experiências com a fotografia em 1942, seu Magid garante que não é autodidata, já que fez muitas leituras e estudou para chegar ao que sabe hoje.
Júlio Cézar Pagani
Bons tempos eram quando o FCES chegava a mais de uma centena de membros, situação bem diferente da atual. "Tivemos até mais de 100 membros, mas depois foi se definhando. Não há mais aquele espírito de idealismo hoje em dia. Todo mundo quer entrar no negócio para tomar vantagem. Hoje têm uns três ou quatro que vão lá uma vez ou outra. Tomara que alguém tome conta disso, porque... e se eu morrer?", deixa a pergunta no ar.
Digital
Magid Saade conta que já chegou até a ter um laboratório de revelação em sua própria casa. O laboratório que ainda hoje o Foto Clube tem, ele acredita ter sido ele o último a usar, há cerca de um ano e meio, mas reclama que hoje já não se encontra mais material em Vitória.
Ele critica os trabalhos que tem visto em Vitória nessa era digital. "Entrou a digital. O digital é a fotografia do momento. Eu não tenho gostado do serviço de Vitória. Hoje a maioria das pessoas tem uma máquina por ter, para uma festa. Não tem o processamento", diz.
Para aderir à maquina digital, seu Magid está esperando os equipamentos se adequarem à qualidade que ele conseguia com os equipamentos tradicionais. "A digital ainda não chegou ao ponto que eu cheguei no preto e branco. Para eu chegar nisso eu tenho que gastar mais de R$ 20 mil, mas eles estão se adequando. O poder de definição eu tenho mais na máquina tradicional do que na digital, mas eu acredito que em pouco tempo eles vão se adequar. Eu quero dominar a máquina, não quero que a máquina me domine. Isto está se acelerando de um maneira que é infinito. Pena eu estar nos meus 88 anos, que eu não possa entrar mais tanto nessa era digital".
Ele inclusive diz que já chegou a dar uma olhada. "Eu não tenho ainda a digital. Eu quero comprar. Eu fui a uma loja e vi uma de R$ 1.950, 'made in Singapura'. Deus me livre! Eu não quero isso nem de graça", se diverte.
Apesar de ter perdido suas forças por volta de 1980, a sede do Foto Clube do Espírito Santo ainda funciona, o laboratório para preto e branco é mantido e o arquivo das fotografias dos sócios está em boas condições. O FCES fica na Avenida Governador Bley, 186 - 9º andar, no Centro de Vitória.
Serviço
O projeto Vitória Foto abre nesta terça-feira (20) a exposição Foto Clube do Espírito Santo, a partir das 19h, no Espaço de Arte do Bandes, Centro de Vitória. A visitação será de 21 de maio a 15 de junho.
FONTE: www.seculodiario.com.br/arquivo/2008/maio/19/index.asp
19 maio 2008
Memória do futuro
por Felicia Borges
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
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