05 maio 2008

O fotógrafo Walter Firmo ministra palestra e abre exposição em Vitória
05/05/2008 11:59:52 - Jornal A Gazeta

VITOR LOPES
vlopes@redegazeta.com.br

foto: Walter Firmo/
Divulgação
Aos 70 anos, o fotógrafo Walter Firmo afirma que não está cansado de lidar com a imagem. Autor de registros únicos do cotidiano nacional, Firmo vê na fotografia uma importante função para o auto-descobrimento e para a educação. O artista vem ao Estado para ministrar, de amanhã até sexta-feira, o curso Criatividade na Cor (com vagas esgotadas) e inaugurar a exposição “Abstrato Estrato”, na quinta. As atividades fazem parte do Vitória Foto, evento que abriga diversas mostras de fotografia durante todo o mês, em Vitória.

Carioca de nascimento, Firmo começou a fotografar profissionalmente aos 20 anos. Ao longo da carreira, colaborou para as revistas “Realidade”, “Manchete” e “Istoé”, entre inúmeras outras. Em 1963, recebeu o seu primeiro Prêmio Esso de Jornalismo, com a série “Cem Dias na Amazônia de Ninguém”. Também ganhou nove vezes o Prêmio Internacional de Fotografia Nikon. Além disso, Firmo foi o segundo fotógrafo a ter uma exposição individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, depois do francês Henri Cartier-Bresson.

Em entrevista por e-mail ao Caderno 2, o artista comenta sobre o atual panorama da fotografia em uma época em que é cada vez mais comum o registro instantâneo de imagens por meio das câmeras digitais. “Hoje, a vontade de ver fotos digitais no computador virou uma febre”, analisa o fotógrafo, de quem as imagens correram inúmeros países, como Cabo Verde, Argentina, Cuba, Rússia e França.

Neste mundo cada vez mais imagético, qual a atual função da fotografia?
Será sempre o de educar. Isso porque, quando vemos uma fotografia, por mais simples que ela seja, sempre ficamos ansiosos de saber o que será, aonde, quando, por quê. E, dependendo do que vemos e sentimos, aprenderemos mais sobre algum assunto que possa suprir a nossa ignorância. O que é bom ficará, o resto se joga no lixo.
Você acredita que a fotografia perdeu espaço para o audiovisual?
A fotografia exerce um certo poder e fascínio, justamente pela inércia em que ela se constrói e, na sua mudez e aparente frigidez, mexe com o intelecto, despertando lucidez e um despertar imaginário sem precedentes.

A memória está se modificando com o uso frenético da câmera digital?
Nada disso. Para a população de todos os níveis sociais, o mundo digital é hoje o que, antigamente, era o descartável mini-laboratório, quando você chegava com o seu abominável filme colorido, mandava revelar e apanhava uma hora depois, já com as cópias feitas... Hoje, a vontade de ver fotos digitais no computador virou uma febre. Mas, quando o HD pifar, esse legado familiar ficará comprometido.

O senhor já registrou a vida de diversos povos em diferentes países. Como a fotografia é vista ao redor do mundo?
A fotografia são olhos em suas mãos, uma maneira de gerar tesouros jamais encontrados em nenhum lugar. Você pode exaltar seus melhores momentos nesta passagem ultrarápida da nossa missão terrestre. Quando viajo a outros países, sou um voyeur, aquele que desnuda ao vivenciar novas experiências.

Como escolhe se um ensaio será feito em filme preto-e-branco ou em cores? O que mais lhe chama a atenção em cada técnica?
São duas linguagens inteiramente diferentes. A primeira é introspectiva, fina-flor surreal, intelectual, porque não somos cachorros para ver em preto-e-branco. A cor é o divino déjà vu, onde Deus está presente, transitando no verde da esperança, no vermelho da paixão, no azul dos deuses, no amarelo doentio, no divino lilás... Sem falar no branco de todas as cores e no inatingível preto.

Como foi fotografar grandes nomes da música nacional, como Pixinguinha e Cartola?
Eu era como um parente deles, da mesma cidadania racial, e pude conviver muito de perto, inteiramente relaxado e recolhido às mesmas raízes.

Como fazer um retrato novo de pessoas que são constantemente fotografadas?
O retrato é a marca individual de cada fotógrafo, talvez a arte mais difícil dentro da fotografia, já que você tem que apostar na amizade, na confiança recíproca e no entendimento. O retrato é, na verdade, um trabalho a dois, com o mesmo objetivo.

-Existe uma nova geração de fotógrafos brasileiros? Quem o senhor destaca?
A nossa geração de fotojornalista é imbatível. Muitos deles poderiam trabalhar em qualquer indústria de informação em qualquer parte do mundo. Talento é o que não lhes falta. Temos no fotojornalismo o Evandro Teixeira, velho profissional. No jornal "O Globo" temos uns trê. No "Estado de São Paulo", outros três. Na "Folha", uns cinco. Já no fotojornalismo de revista a coisa se complica tal a infinidade de grandes profissionais da área. As mulheres também tem boa presença.

-Qual o seu equipamento digital e analógico?
O analógico que é meu berço, tenho duas Haselblads, duas Nikons FM2, duas Leicas. Agora, de uns meses para cá, comprei uma já ultrapassada D-100 da Nikon, para "professorar" minhas andanças com os alunos. É instantânea e isso facilita o aprendizado. Também como profissional, agora me convidaram a fotografar indústrias e reportagens ligeiras, tudo por causa do imediatismo digital “que não deixa para amanhã o que se pode fazer agora”. Mas, na verdade, todo meu trabalho criativo pessoal é feito ainda com filmes.

-Como vai ser a sua exposição aqui em Vitória?
A exposição é uma descoberta dos valores dos objetos, do chão, do céu, da chuva, dos reflexos, da "natureza-morta", enfim, uma sublimação daquilo que esté sempre perto de nós e não damos nenhuma bola, passado sempre batido. Mas, que existe um outro mundo isto existe.

-Você ministra diversos cursos pelo país. Qual é o perfil público que te procura? Eles estão interessados em quê?
Existem dois perfis, aquele que vê na fotografia um escape profissional (que é a minoria) e a outra, um grande existencialismo prático onde a arte de cada um é perpetrada e sua essencialidade criadora é burilada como um diamante. Muitos, inclusive, vêem na fotografia um divã psicanalítico, coisas de Freud, enquanto maturação de um bem-estar individual e filosofia de uma nova vida.

-O senhor acha que seria interessante que o governo criasse uma disciplina sobre cultura imagética nas escolas?
Sim. Na França é obrigatório saber a história da fotografia e quem foi quem nesse caminho.


Confira

Walter Firmo
Exposição Abstrato Extrato
Quando: Quinta, às 20h
Onde: Galeria Homero Massena, Rua Pedro Palácios, 99, Cidade Alta, Centro, Vitória.
Informações: (27) 9981-3042 e no site www.vitoriafoto2008.
blogspot.com.

Programação

As exposições do Vitória Foto

Dia 13: Abertura de “Guaramare: no Mundo de Vicente Bojovski”, de André Alves, no Studio Base 40, Fradinhos, Vitória.

Dia 15: Abertura de “Espírito Santo em Preto e Branco”, de Rogério Medeiros, na Assembléia Legislativa, Vitória.

Dia 17: Abertura de “A Favela vê a Favela”, do Observatório de Favelas, no Píer Ilha das Caieiras, Vitória.

Dia 20: Abertura de “Foto Clube do Espírito Santo”, coletivo, no Espaço de Artes do Bandes, Vitória.

Dia 30: Abertura de “Mulheres de Tucum”, de Edson Chagas, Na Aliança Francesa, Vitória.