16 maio 2008

A Favela vê a Favela - Observatório de Favelas (RJ)

As imagens de favelas cariocas selecionadas para a exposição A favela vê a favela permitem uma insuspeita conexão entre os domínios da física e da filosofia. Em um primeiro momento, o olho do fotógrafo seleciona os reflexos enquadrados no visor e num clique a luz fica gravada na emulsão das películas ou nos sensores das câmeras digitais.

Tempos depois, outros olhares irão se debruçar por sobre essas fotografias e serão convidados a pensar. Estabelece-se, então, um tempo para a reflexão. Um tempo para perceber que a vida das favelas fotografadas pulsa, em toda sua plenitude, naqueles jovens corações. Uma vida alegre, pensativa e sonhadora, bem distinta daquela visão sombria com que a favela normalmente é exibida nas páginas da grande mídia.

O sensacionalismo, a violência e o medo que caracterizam o modo como habitualmente a grande mídia mostra tais comunidades, além de minimizarem as possibilidades de cidadania para as crianças que lá nascem, não dão conta da riqueza que é a experiência de vida nesses locais. Cabe, portanto, enfatizar o lazer, o estudo, os jogos e os sonhos dessa infância. Cabe registrar a incrível capacidade de resistência demonstrada cotidianamente pelos habitantes desses espaços populares, em sua incansável busca por solidariedade e dignidade. Cabe, enfim, aprender com eles.

As imagens que compõem a presente mostra foram produzidas pelos fotógrafos do Imagens do Povo, um centro de formação e documentação visual localizado no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, onde vivem cerca de 130 mil pessoas, distribuídas por 16 comunidades populares.

Criado em 2004, como parte do projeto sócio-pedagógico do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, o Imagens do Povo objetiva democratizar o acesso à linguagem fotográfica como técnica de expressão e visão ideológica de mundo, contribuindo para a ampliação de um olhar humanista sobre a sociedade como um todo e, em especial, um olhar internalizado e não estereotipado das favelas sobre si mesmas.

Coordenado pelos fotógrafos João Roberto Ripper e Dante Gastaldoni, os principais eixos do projeto são: a Escola de Fotógrafos Populares, o Banco de Imagens e a Agência de Fotografia Imagens do Povo. O intuito é colocar a fotografia a serviço dos direitos humanos, através do registro da realidade vivida nas periferias e favelas do Brasil e da constituição de um acervo de imagens sobre os diferentes grupos e movimentos populares do país.

Escola de Fotógrafos Populares Imagens do Povo

O papel da Escola é formar jovens no ofício da fotografia, articular seu ingresso no mercado de trabalho, desenvolver um trabalho de registro dos espaços populares, especialmente, no Rio de Janeiro, e, por fim, difundir outras possibilidades de percepção desses locais e de seus moradores. O objetivo do curso é o de resgatar a história das comunidades populares e dos processos vividos cotidianamente pelos moradores de diferentes comunidades. Em especial, oferecer um instrumento de renda para um conjunto de jovens oriundos de favelas cariocas, além de estimular a afirmação de sua identidade positiva.

Agência Imagens do Povo e Banco Virtual de Imagens

O material resultante do trabalho das turmas da Escola de Fotógrafos Populares foi incorporado ao Banco Virtual Imagens do Povo, disponível no site: http://www.imagensdopovo.org.br/, inaugurado em maio de 2005, que além do material produzido pelos alunos, possui também imagens dos fotógrafos João Roberto Ripper e Ricardo Funari, além de outros fotógrafos que comungam com a idéia do projeto.

Os fotógrafos que participam do projeto cedem seus direitos e concordam com a doação ilimitada de fotografias às organizações sociais que não disponham de recursos para o pagamento de direito autoral. O critério de avaliação dos beneficiados é de responsabilidade do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro.

Outro componente do Imagens do Povo é a Agência de Fotografia, que assim como o Banco, é mais uma forma de geração de renda, já que as instituições podem contratar os fotógrafos para realizarem os registros solicitados. De acordo com nossa política, este registro pode ser remunerado ou não, dependendo da instituição, assim como também o valor pode variar de acordo com o convênio estabelecido.

Imagens do Povo, um projeto que Faz Diferença



A Escola de Fotógrafos Populares do projeto Imagens do Povo, do Observatório de Favelas, ganhou o Prêmio Faz Diferença, de O Globo 2007, na categoria Revista do jornal. Jornalistas de cada uma das editorias indicaram os finalistas de cada categoria, e depois foram escolhidos os mais votados via internet. A premiação aconteceu em 11 de março de 2008, no Copacabana Palace.

“Este prêmio é uma forma de mostrar que as possibilidades são iguais quando existem condições iguais”, é a opinião de Davi Marcos, formado pela primeira turma da Escola de Fotógrafos. Ele disse ainda que foi importante a inserção deles em um local onde normalmente as pessoas oriundas de espaços populares desempenham um papel de coadjuvantes. “Desta vez tivemos não só o nosso trabalho apreciado e reconhecido, mas também homenageado”, afirmou.
fotos: F. Rodrigues (primeira); Ratão Diniz

Serviço:

A Favela vê a favela

Abertura: 17 de maio
Horário: a partir das 15 horas
Onde: no Píer da Ilha das Caieiras, Rua Felicidade Correia dos Santos s/n – Ilha das Caieiras, Vitória
Visitação: até 1 de junho

Nenhum comentário: